quarta-feira, 23 de julho de 2014

Doze contos peregrinos - Gabriel García Marquez



 Escritos para repassar a memória, Doze contos peregrinos são histórias de latino-americanos na Europa, peregrinos solitários que não deixam de sonhar com a terra natal. São o retrato fantástico de Barcelona, Genebra, Roma e Paris como o pano de fundo das narrativas, onde são revelados os fatos jornalísticos de maneira sempre impecável e original. Lembranças reais, vivenciadas pelo autor, os contos são mesclados do trivial e do fantástico, mas, no momento da escrita, suplantaram a realidade, à medida que se afastavam das lembranças que lhes deram origem.

Veja este livro em: Skoob | Goodreads

Ainda não conhecia nada do autor, embora já tivesse ouvido falar em seu nome, mas foi segundo a sugestão do vendedor de uma livraria da cidade que resolvi trazer para casa Doze anos de solidão, que foi uma introdução digna à literatura de Gabriel García Marquez, ganhador do prêmio Nobel de literatura.

Dividido em doze contos, como bem antecipa o título, a obra começa com “Boa viagem, senhor presidente”, conto que fala sobre os anseios e o estado de vivência de um presidente derrubado que encontra um pouco de sentido de amizade e compaixão em um até então desconhecido.

O livro começa de maneira cativante, com o conto nos transportando ao momento apresentado quase que instantaneamente, com descrições detalhadas sem prolixidade. Gabriel García Marquez escolhe as palavras sabiamente e as põe no papel de maneira a encantar o leitor a cada página.


 “A santa”, segundo conto do livro, nos traz o dia-a-dia da batalha de um homem que busca a canonização da filha, que faleceu e foi encontrada intacta no caixão anos depois da sua morte. É, de maneira singela, um dos contos mais tocantes do livro.


Eu tinha acabado de ser apresentado a ela quando cometi a impertinência feliz de perguntar como havia feito para implantar-se de tal modo naquele mundo tão distante e diferente de seus penhascos de ventos do Quíndio, e ela me respondeu de chofre:
- Eu me alugo para sonhar.


Entre contos de amor, solidão, esperança e reflexão, encontramos espaço até para o sobrenatural em “‘Só vim telefonar’” e “Assombrações de agosto”. García Marquez liga os contos como se fizessem parte de uma só história. É possível perceber a marcação das suas palavras e o ritmo se torna fluido durante o livro inteiro.

Maria dos Prazeres” nos apresenta a história de uma mulher que não vive no auge da sua inesperada profissão e sente que está prestes a morrer, então encomenda seu leito de morte. É uma personagem brasileira e humana, com uma vida um pouco mais palpável que outras, presentes no livro.

Talvez o conto mais previsível e lugar-comum, “Dezessete ingleses envenenados” não traz surpresa ao leitor e se perde em meio aos contos presentes na obra. Não segue uma linha contínua desde o início e um detalhe é pego para finalização do conto. No final, ainda me perguntei se o autor não poderia ter deixado passar esse, em específico.

Já “Tramontana” é completamente o oposto do conto anterior. Trata das lembranças do autor sobre a tramontana, que vem a ser explicada no decorrer das poucas páginas, e como tais lembranças têm ligação com um fato que está ocorrendo naquele momento na vida da personagem. Está entre os meus preferidos.


[...] pois o mundo parecia, para ele, um imenso brinquedo de corda com o qual se inventava a vida.


Quase no final notei que se trata de um livro de contrapontos e surpresas. “O verão feliz da senhora Forbes” pode ser caracterizado (por mim, claro) como perturbador. Terminada a leitura não soube se ria ou chorava ou o que pensar sobre a história descrita. É um ótimo conto.


 “A luz é como a água”, por sua vez, é divertido e um dos contos mais curtos do livro e dá abertura a “O rastro do teu sangue na neve”, que finaliza a obra da maneira mais magistral que pude perceber em uma leitura durante esse ano, quiçá em muitos anos. É um conto sensível e profundo, que nos leva ao cenário frio de Paris para conhecer um pouco da comovente história de Billy e Nena.

Creio que, depois de Doze contos peregrinos, vou ter que ler a maior quantidade possível de obras de Gabriel García. Ele traz ao leitor em sua coletânea de contos um retrato da Europa que geralmente não conhecemos em best-sellers e filmes que chegam ao cinema. É um cenário misterioso e até aconchegante, com um toque de familiaridade que, por vezes, quase é possível se ver dentro de um ou outro conto.


Título: Doze contos peregrinos
ISBN: 8501040665
Editora: Record
Páginas:256
Ano: 2013

Avaliação: 5/5.


Um comentário:

  1. Olá Alisson,

    Não li nada do autor ainda, mas pretendo em breve...parabéns pela sua resenha...abraços.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

    ResponderExcluir